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Operação no Rio de Janeiro: quando o discurso da ação vence o discurso da crítica

Uma reflexão sobre como a direita comunica ação e a esquerda comunica crítica, e como isso molda a percepção de solução na segurança pública.


fotos operação no rio de janeiro
Durante operação policial contra o Comando Vermelho, bandidos ordenam o fechamento do comércio e usam lixeiras incendiadas para bloquear vias. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A megaoperação no Rio de Janeiro mobilizou mais de 2.500 agentes, resultou em mais de 130 mortos, 90 presos, 100 fuzis apreendidos e quatro policiais mortos. A repercussão foi imediata. Mas o ponto central não está apenas nos números. Está na forma como a população enxerga esse tipo de ação estatal.


Durante muito tempo, a opinião pública funcionou como limite moral da violência do Estado. Quando havia morte de inocentes, vinha a comoção, a cobrança e o freio. Hoje esse freio é mais fraco. Não porque a sociedade tenha se tornado indiferente, mas porque a experiência cotidiana com o crime mudou. E porque a informação deixou de ser filtrada apenas pela imprensa mainstream. Ela agora se forma horizontalmente: nos grupos de WhatsApp, nas redes e nas conversas do bairro. A experiência vivida pesa mais que a narrativa mediada.


A pesquisa da AtlasIntel confirma essa mudança. No Brasil, 55,2% aprovam a operação. No Rio, 62,2% aprovam. E nas favelas, onde o impacto é real e o risco de efeito colateral existe, o apoio chega a 87,6%. Ou seja, quem mais poderia temer a operação é quem mais a apoia. Isso faz qualquer um rever seus pressupostos. Quando quem está no território apoia a ação, é porque entende que os benefícios superam os custos. Não é apoio à violência. É reação ao abandono.


Pesquisa operação no rio de janeiro
Pesquisa AtlasIntel realizada nos dias 29 e 30 de outubro de 2025.

Esse cenário escancara a falência do Estado enquanto garantidor de segurança básica. Quando o cidadão defende a eliminação imediata de uma ameaça, mesmo que isso contrarie o devido processo legal, não é porque ele celebra a violência, é porque ele perdeu a crença de que o sistema de justiça impede a reincidência. Ele já viu o agressor voltar. Ele já foi vítima, ou conhece quem foi. Ele vive sob medo constante.


É nesse contexto que se coloca a disputa política. O discurso do “prender e matar”, associado à direita, não é popular porque é eficaz, ele é popular porque comunica ação. É uma política ruim que enxuga gelo, não desarticula economias criminosas, não reorganiza territórios e não reconstrói a presença do Estado, mas transmite movimento e o cidadão entende como tentativa de fazer algo agora.


Enquanto isso, a esquerda, ao criticar operações como a do Rio, pode até fazer uma crítica correta no plano técnico e de direitos, mas não apresenta uma política clara para o curto prazo. O resultado é que, na percepção do cidadão, a mensagem chega invertida: a direita está tentando resolver, a esquerda está tentando impedir que se resolva. Quando a crítica vem sem alternativa concreta, ela não disputa a narrativa da solução, ela soa como negação da ação.


Diante desse cenário, a reação do cidadão não é ideológica, ela é prática. De um lado, ele vê uma proposta que promete agir agora, mesmo que seja limitada e produza efeitos colaterais. Do outro, ele vê uma crítica que pode ser correta, mas que não oferece uma alternativa capaz de enfrentar o medo imediato. É essa diferença de temporalidade que organiza a opinião pública.


Por isso, quando a direita defende o confronto, o cidadão interpreta como tentativa de solução. Quando a esquerda critica o confronto sem apresentar uma política concreta de curto prazo, o cidadão interpreta como ausência de solução. Não importa o que cada campo pretende dizer. Importa o que é compreendido.


A crise da segurança pública, portanto, não está apenas na operação do Estado, mas na forma como as estratégias são comunicadas e percebidas. Se uma proposta é vista como ação e a outra é vista como impedimento, a preferência se forma antes mesmo da análise técnica.


No fim, a discussão não é sobre ser a favor ou contra operações. É sobre a necessidade de apresentar soluções que dialoguem com o tempo real da vida das pessoas. O cidadão não rejeita políticas de longo prazo, ele rejeita ser deixado sozinho até que elas cheguem.


fotos operação no rio de janeiro
Dezenas de corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, após megaoperação no Rio  Foto: Tomaz Silva /Agência Brasil

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ersão alternativa da logo da Dual Comunicação Política usada no site institucional.

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