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Amin não mudou. Mudou o palco.

Um debate entre profissionais do marketing político sobre coerência e adaptação narrativa na política catarinense.


Presidente-ditador João Figueiredo e o então deputado federal Esperidião Amin durante visita oficial a Florianópolis, em 1979. Da esquerda para a direita: Esperidião Amin, João Figueiredo e o ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel. Foto: APESC.
Presidente-ditador João Figueiredo e o então deputado federal Esperidião Amin durante visita oficial a Florianópolis, em 1979. Da esquerda para a direita: Esperidião Amin, João Figueiredo e o ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel. Foto: APESC.

Fred Perillo, estrategista político que admiro profundamente, escreveu recentemente um artigo sobre Esperidião Amin. Nele, sustenta que o senador catarinense mudou de narrativa ao adotar o figurino bolsonarista, trocando a voz do gestor técnico pela do combatente digital. É uma boa tese, mas talvez parta de uma leitura invertida. Amin não mudou. Mudou o que o público escolheu assistir e o que ele decidiu comunicar.


Desde o início da carreira, Amin ocupa o mesmo território político. Foi prefeito biônico indicado pela ditadura militar em 1975, filiado à Arena e, mais tarde, ao PDS, ao PPR e ao PP. Sempre representou uma direita institucional e técnica, conservadora por vocação e legalista por formação.


Um exemplo que ajuda a entender essa coerência histórica é o episódio da Novembrada, em 1979. Naquele ano, o presidente ditador general João Figueiredo visitou Florianópolis para inaugurar uma placa em homenagem a Floriano Peixoto e tentar reforçar a imagem de um governo em transição e aberto ao diálogo. Para isso, contou com dois aliados políticos locais: o recém-eleito deputado federal mais votado da história de Santa Catarina, Esperidião Amin, que havia sido prefeito indicado pelo regime militar até o ano anterior, e o governador Jorge Bornhausen, escolhido indiretamente pela Assembleia Legislativa.


Desde o início de sua trajetória política, Amin se mantém como esse conservador legalista de retórica didática, que por décadas foi percebido mais como técnico do que como ideológico. A questão não é apenas o que Amin diz, mas o que ele e sua equipe entenderam que faz sentido chegar ao público. Nas palestras, ele fala de gestão, legalidade, eficiência, infraestrutura, burocracia e antipetismo, com o mesmo tom analítico de sempre. A comunicação, a partir desse conteúdo, faz uma curadoria consciente: seleciona o trecho que encontra eco do outro lado da tela. Não é uma reinvenção, mas um recorte que reorganiza o mesmo discurso no ritmo de consumo do presente.


Por isso, minha avaliação é que a estratégia de comunicação de Amin não foi oportunista, mas uma leitura de contexto. O político coerente, na minha análise, não é o que repete sempre as mesmas palavras, mas o que preserva o mesmo sentido enquanto o mundo muda ao redor. Falar a mesma coisa de diversas maneiras é, aliás, uma ótima estratégia porque ajuda o público a reconhecer o que você defende mesmo em contextos diferentes.


Mas o ponto aqui é outro: o que sustenta um discurso não é a repetição literal, e sim a permanência de um sentido. O Amin que aparece nas redes é o mesmo de sempre, apenas filtrado pelo olhar de uma época em que emoção, conflito e pertencimento valem mais do que uma explicação super técnica e completa com todos os pormenores.


Cabe ressaltar que muitas das observações feitas por Fred em seu artigo têm minha concordância. Inclusive, destaco o melhor trecho do texto, em que ele escreve:

“Eram os tempos em que a direita debatia o tamanho do Estado, e não o tamanho das saias.”

Essa frase, a meu ver, explica de forma precisa o dilema atual do campo conservador. Muitos bolsonaristas de ocasião entenderam que a guerra cultural rende mais audiência do que a discussão institucional, e migraram para esse território. Amin, ao contrário, permanece fiel ao conservadorismo legalista que sempre defendeu. Não é um “guerreiro cultural”, é um político que acredita na ordem e na lei como fundamento da política. Quando fala de instituições, de abusos de poder e de voto auditável, está dizendo o que sempre disse.


O inimigo de Amin nunca foi ideológico, foi institucional: a ineficiência, a corrupção, o desvio da lei. E dentro dessa afirmação, cabe fazer uma ressalva: Toda atuação política é, em alguma medida, ideológica. O que se chama de “institucional” ou “técnico” não é ausência de ideologia, mas uma forma de debate centrada na estrutura e na legalidade do Estado, e não nas guerras culturais que dominam parte da direita contemporânea. O que acontece hoje é uma fusão entre esses dois campos: a discussão sobre o papel e os limites das instituições se mistura às pautas de costumes e à retórica anti-sistema. Ainda assim, são naturezas distintas de narrativa. A coerência de Amin continua lá, apenas com novos nomes e protagonistas. A diferença é que agora existe um público para ouvir.


Outro argumento que aparece no artigo de Fred, e com o qual tenho parcial concordância, é o de que engajamento não é voto. Ele tem razão nesse ponto. Mas engajamento é o terreno fértil onde se planta relevância.


O político que compreende o comportamento das redes pode não comprar popularidade, mas consegue comprar sobrevida. Amin pode não ganhar votos com curtidas, mas mantém relevância simbólica e controle de narrativa, e isso também é capital político.


Principalmente em um momento em que, para compor uma chapa de direita, é preciso estar não apenas alinhado aos acordos de bastidor, mas minimamente sintonizado com o projeto conservador defendido pelo eleitor catarinense. O desafio era construir essa identidade sem perder a essência, evitando parecer artificial ou ser atacado pela patrulha digital da militância bolsonarista, que poderia embargar uma candidatura vista como “não tão de direita” ou “oportunista”.


É dentro desse contexto que sua comunicação aprendeu a respirar o ar do tempo. As redes transformaram o político em conteúdo e o conteúdo em gesto. A estratégia, nesse cenário, é escolher quais fragmentos de um discurso longo e complexo merecem circular. O que se publica não é o todo, é o que tem ouvinte.


E é justamente aí que está o mérito. A equipe de Amin não tenta reinventar o personagem, apenas extrai dele o que conversa com o presente. O mesmo discurso de sempre, filmado por outro ângulo.


Mesmo que 2026 traga outros protagonistas, como Carol de Toni e Carlos Bolsonaro, manter a marca viva é o primeiro passo para continuar relevante no tabuleiro. A política é feita de ciclos, mas a coerência é o único ativo que atravessa todos eles.


No fundo, Fred e eu olhamos para o mesmo personagem de ângulos diferentes. Ele vê um político que pode ser engolido pela narrativa. Eu vejo um político que aprendeu a viver dentro dela.

Para mim, não foi Amin que mudou, foi o palco. E, sem dúvida, o ato da peça que ele escolheu apresentar ao público.

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